07 November 2007

Concerto de Rufus Wainwright no Coliseu dos Recreios

Acabei de chegar do concerto de Rufus Wainwright, ainda venho mergulhada num estado de graça, o concerto foi fenomenal. Foi com muito entusiasmo que comprei o bilhete para este concerto, até arrisquei fazendo a minha primeira compra na internet, só para não perder o lugar 16 na 1ª fila ("fosso" da orquestra). Devo dizer que quando cheguei e vi bem o que esse lugar representava fiquei bastante apreensiva porque era muito junto do palco e a um nível bastante mais baixo, além disso o piano estava virado na minha direcção (o lugar 16 é o antepenúltimo lugar do lado direito), logo não veria bem o Rufus quando ele estivesse ao piano (eu stresso sempre com este pormenor quando vou a concertos com piano). No entanto acabou por funcionar muito bem porque quando o Rufus estava ao piano via-o parcialmente, mas sobretudo porque quando está no meio do palco a cantar ao microfone ele costuma virar a cabeça para o lado esquerdo sempre que respira entre as estrofes. O lado esquerdo dele é o lado direito do público, ou seja sempre que fazia esgares, respirava... olhava para o meu lado. Por outro lado, a mãe do Rufus estava a assistir ao concerto por trás do sítio onde eu estava sentada, o que fez com que ele concentrasse as atenções nesta direcção. Além de tudo isso tinha uma bicha louca sentada muito perto de mim e como se levantava constantemente e abria os braços histérica chamava muito a atenção para o nosso lado. Digamos que o concerto foi bastante direccionado para o lado direito da plateia.
Afirmei recentemente que este último album de Rufus Wainwright, o "Release the Stars" não é o meu favorito, na verdade tem sido uma adaptação gradual. No album há um acompanhamento musical à base de cordas, sobretudo de violinos (que não é de todo o meu instrumento favorito), ao vivo essa secção de instrumentos é substituída por instrumentods de sopro como saxofone, trompete, tuba, flauta que são tocados pelos músicos que também fazem de coro (coro este que no cd é composto por mulheres). Resumindo, este album ao vivo é muito melhor que em cd porque tem instrumentos que me agradam mais e não tem vozes femininas, nem de fundo, e eu geralmente prefiro vozes masculinas a femininas e o Rufus em palco brinca e brilha com o sensualismo da sua voz.
Os músicos começaram a entrar, todos vestidos com fatos às riscas, camisas, casacos e calças com riscas de cores e tamanhos diferentes e cheios de broches brilhantes aplicados na roupa. O guitarrista que tocou à minha frente tinha 13 aplicações brilhantes, contei-as eu. Este baixista é o director e o membro mais velho da banda, um homem de cabelo branco espetado, com algumas pontas pintadas de lilás na nuca. Na minha leiga opinião ele parecia estar a fazer festas ao baixo, tocava nas cordas ao de leve e a uma velocidade de cerca de 0,05 milímetros/segundo, foi impressionante! Logo atrás dos músicos vem o Rufus Wainwright vestido com um fato bastante justo às riscas brancas e vermelhas, também ele cravejado de broches: estrelas, flores, uma aranha enorme, tudo muito brilhante. Por baixo do blaser não trazia nada, apenas um colar de brilhantes muito vistoso. Começaram por tocar a "Realease the Stars", que dá nome ao último album e a seguir "Disappoint You", (ou algo do género - na verdade trata-se de "Goin' to a Town", segundo informações do Tremoço Radioactivo, obrigada)depois desta música diz-nos que esta tarde foi fazer um passeio ao longo do rio, até Belém e que comentou com a mãe que Lisboa deve ser a cicade europeia mais bonita, que tem o mesmo encanto de Paris, com edifícios antigos muito bonitos e alinhados, mas que dá a impressão que não foram assim assim concebidos propositadamente, o que dá um encanto especial à cidade. Isto para introduzir a seguinte canção que, segundo ele, também é um sítio encantador a "Sanssouci" (o palácio de verão de Frederico o Grande, rei da Prússia, em Postdam, na Alemanha), "mas vocês estão habituados a castelos e palácios, eu é que não", segundo as palavras do cantor... De seguida disse-nos que quando esteve em Belém foi ver um dos seus museus favoritos, o museu dos coches, coches como o cabriolet que mencionava na música anterior e não me lembro muito bem porquê disse que se sentia como uma princesa, uma princesa sem trono, "se alguém fizer uma oferta... estou disponível", começou toda a gente a rir e ele cantou então "Rules and Regulations", não sem antes dizer "ai o que eu fui dizer, ainda começam aqui uma revolução... LOL



A seguir cantou "Danny Boy" e passou para o piano e disse que apesar de estararem a fazer a promoção do album "Release the Stars" também iriam cantar músicas mais antigas e que iniciariam agora uma secção intitulada recuperação, ou algo do género. Cantou então "Cigarettes And Chocolate Milk", levando o público ao rubro com a recordação de uma música tão popular e que passa constantemente no rádio, ou pelo menos na Radar.


Cigarettes And Chocolate Milk - Lion D'or, Montreal 2003-09-24

A seguir tocou "Art Teacher" e depois passou outra vez para o meio do palco, para o microfone e a guitarra e tocou "Tiergarten", uma música que eu não apreciava nada quando a ouvia em cd, parecia uma música infantil, mas ao vivo vibro com a música, dá vontade de dar pulos. No fim desta conção o público começou a bater com os pés devido ao entusiasmo ao que o Rufus reagiu comentanto "Oops! Será que vamos ter outro terramoto em Lisboa? Não sei se fui rude ao fazer este comentário, desculpem." Desatou tudo a rir. Depois cantou "Leaving for Paris" que eu nunca tinha ouvido e depois "Between my Legs", mais uma música muito apreciada pelo público e que foi muito bem interpretada, o entusiasmo do público foi inteiramente justificável. Nesta música aconteceu algo interessante, normalmente alguém do público inscreve-se antecipadamente para recitar a parte falada desta música, como ninguém se inscreveu para o concerto de Lisboa ("it doesn't mean that you're not cool, you are very cool") escolheram a instrutora de yoga para o fazer, então ela andou pelo palco a dançar e a tocar uns sininhos com os restantes músicos, enquanto o Rufus cantava.
De seguida houve um intervalo de cerca de 15 minutos que apanhou tudo de surpresa, uma vez que estávamos todos com um grande andamento depois de ouvir "Between my Legs", foi um momento estranho, que nos deixou ansiosos por ouvir o resto do concerto.




Depois do intervalo o Rufus Wainwright regressa vestido de tirolês, como no livro que acompanha o album "Release The Stars", o que deixa em delírio o público gay, e não só... Começaram por tocar "Do I Disappoint You" animando toda a plateia e de seguida anunciou um novo projecto com interpretações da Judy Garland ("não sei se aqui é muito conhecida, mas lá é bastante famosa" ?...) que sairá em DVD no início de Dezembro (onde, nos Estados Unidos? Estamos em Portugal, tens de calcular o atraso...). Cantou então a música "Foggy Day at the Hollywood Bowl" de Gershwin e a seguir "A Strange Town", julgo eu e não consegui perceber o nome do autor. Depois cantou "Nobody's Off The Hook" e anunciou que hoje o baterista, Matt Johnson faz anos, então começamos a cantar o "Happy Birthday" e a instrutora de yoga entra com um bolo de aniversário e velas acesas que o baterista apaga. Canta então "Beautifull Child" e nuncia que nos preparemos para uma canção triste, como no fado, a "Not Ready To Love", música cantada ao piano, muito calma e comovente. De seguida cantou "Slideshow".


Rufus Wainwright - Foggy Day at the Hollywood Bowlat the Hollywood Bowl on September 23, 2007 (com imagem um pouco nebulosa também)

Conta-nos então que o informaram que esta sala de espectáculos é muito antiga e que ele se lembra que uma das melhores gravações de ópera foi feita em Portugal ("qual é a sala onde costumam cantar ópera?" "O São Carlos!" "O São Carlos!" "... Humm? whatever..."), trata-se de "La Traviata" de Verdi, interpretada pela Maria Callas. Como muitos cantores devem ter cantado neste palco sem microfone ele anuncia que vai fazer o mesmo, correndo o risco de não ser ouvido pelas pessoas de trás. Os músicos dos instrumentos de sopro chegam-se à boca de cena e acompanham-no suavemente enquanto ele canta "Makushla" (não sei se está bem escrito), uma música irlandesa linda e com uma interpetação fenomenal. Não sei quanto às pessoas de trás, mas eu fiquei toda arrepiada e completamente comovida com esta canção. Depois desta música saem de novamente de palco com uma enorme ovação.
Quando regressa, sozinho vestido com um roupão branco de algodão, toca "I Don't Know What It Is" e depois, para grande alegria do público, canta "Poses" só com piano, que soa como uma espécie de lamento, muito dramática, linda! Chega então o momento em que divide o palco com a mãe, Kate que vai para o piano e o acompanha em duas músicas, primeiro a "Over The Rainbow...", do "Feiticeiro de Oz" e depois "Barcelona".


Rufus Wainwright listening to "somewhere over the rainbow - no radio "France inter" 19/01/2007


Rufus Wainwright as Judy Garland Somewhere Over the Rainbow

De repente as luzes apagam-se e quando se acendem ele está sentado numa cadeira a meio do palco, coloca um anel de brilhantes no dedo, brincos também de brilhantes, pinta os lábios com batom vermelho, tira os sapatos e calça sapatos de salto alto, tira o roupão e fica com um casaco de smoking preto, com uma espécie de lenço branco por baixo da lapela ou parte da camisa branca de cetim, mas que não se vê na parte inferior do casaco, porque para baixo ele só tem vestidos uns collants pretos semi-opacos, com uma risca preta na parte de trás da perna. Começa a cantar uma música que tem um refrão que diz mais ou menos isto "Come on, we must be happy, we are going to the judgment day..." e começam também a entrar os músicos vestidos de fato preto que realizam uma dança acompanhando o Rufus Waiwright, que se vai passeando pelo palco de saltos altos e collants, qual diva do cinema dos anos 40. Os músicos saltam, fazem passos coreografados, vão uns contra os outros quando deveriam cruzar-se saltando, é hilariante. Como se se tratasse da atriz principal e dos seus trapalhões. Esta última parte foi cantada em playback, segundo as directrizes usuais nos shows travesti (obrigada pela informação Tremoço Radioactivo, realmente não havia qualquer microfone...).
Por fim tocam outra música e começam a sair um a um, começando pelo Rufus Waiwright e terminando no baixista, que neste momento tocava bandolim. Regressam ao palco para agradecer os aplausos e vão embora.


Rufus Wainwright-Get Happy-Hollywood Bowl 9/23/07

Quando comprei o bilhete para este concerto estava mesmo muito entusiasmada, entretanto fui-me um bocado abaixo, devido a diversas circunstâncias e perdendo parte desse ânimo e ansiedade, mas depois deste concerto sinto-me com ânimo suficiente para encarar as próximas semanas. Amanhã vou ver Interpol mas acho que nem vou apreciar e que no fim de Interpol ainda vou estar a pensar no concerto de Rufus Wainwright! Foi colossal! Fabuloso!
Se alguém teve paciência para ler isto até ao fim dou os meus parabéns pela paciência.

P.S.: Não coloquei fotografia nenhuma porque antes de sair de casa pus a máquina a carregar mas esqueci-me de a levar para o concerto. Que fotos maravilhosas que eu podia ter tirado esta noite... Entretanto vou pesquisar e tentar encontrar alguma coisa.



Concerto na Aula Magna, em Novembro de 2004, onde segundo o cantor só tinha meia sala ocupada. Aqui canta parte de "Hallelujah", da banda sonora de Shrek e o início de "Go Or Go Ahead", mas disse previamente que se arriscaria por estar a cantá-la sem o suporte da banda, mas que o faria de qualquer forma e logo se veria o que saía...


Harvester Of Hearts

6 comments:

Tremoço Radioactivo said...

O "baixista de cabelo branco espetado" não era baixista, mas sim o guitarrista principal.

A segunda música foi a "Goin' to a town".

E o número de travesti foi cantado em playback. Era a voz dele, mas gravada. Ele apenas acompanhou com os lábios. É uma tradição dos números de travesti e drag queen.


Boa review de um excelente concerto!!

Betty Coltrane said...

O concerto do ano para mim... fabuloso!! Ah, como eu adoro este homem... :D

Ana Coelho said...

Bem... acho que mereço os parabéns... pois eu li até ao fim! Acho que Eça de Queirós não conseguia fazer melhor descrissão de um momento!
Ainda bem que gostaste... depois de ler o teu texto tenho a sensação que também estive lá!
beijos

TheDruid said...

Foi de facto um concerto totalmente fab. O Rufus é um artista fantástico e neste concerto quis partilhar, orgulhoso, um pouco de cada uma das suas facetas.

Fiquei espantado com a interpretação do Macushla e deixou-me a pensar em como seria um concerto todo assim. Foi um dos melhores momentos do concerto.
Fantástico também o número de fecho com uma coreografia que parecia espontânea mas que, para parecer assim, deve ter exigido muito trabalho de todos. Só é pena o Rufus não dançar um pouco melhor :P Mas tem boa perna e aguenta-se muito bem de saltos LOOL

Conseguiu superar (e bastante) a impressão que tinha do último concerto, na mesma sala, e que tinha já sido um dos melhores a que assisti.

A tua review é impressionante, especialmente pelo teu detalhe. Boa forma de revisitar o concerto de ontem. :)

Chuva-de-gelo said...

Ainda bem que conseguiste descrever o concerto!Quando cheguei a casa ainda estava em estado de anestesia a tentar assimilar o que tinha acabado de acontecer... houve momentos de rir à gargalhada e outros em que tive de me conter para não abrir a torneira ( Makhusla foi qq coisa de inexplicavel)

O número de travesti é uma replica de um número da Judy Garland, descobri hoje. Está tal e qual: o fato, a banda, até a coreografia meio trapalhona, ela nao era grande bailarina.

A música que ele disse que era triste como o fado foi o " I'm not ready to love" . "Let's get sad"
Houve alguem na fila atras da minha, que ria histericamente durante a música, pq trocaram as guitarras...

Parabéns!!

Jazzkitty said...

Obrigada a todos pelas contribuições, a memória às vezes pega-nos partidas.

Jazzkitty